terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Ernst Haas (1921–1986)
Albert Einstein, Princeton, NJ, 1951
Ballet Dancers, NY, 1968
Herbert Von Karajan, Salzburg, 1978
Marilyn Monroe, behind the scenes of “The Misfits”, Nevada, 1960
Salzburg, Austria, 1945
Sevilla, Spain, 1956
Bangkok, Thailand, 1955
Sunbathers, Vienna, 1946-1948
The Cross, NY, 1966
Ernst Haas (1921–1986)
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
O discurso político de Eusébio Seabra, o “Brasileiro”
Hoje como ontem ...
- Isso não é assim - atalhou o Brasileiro, tomando uns ares catedráticos, cheios de gravidade. - Vossemecê é ignorante e por isso é que fala desse modo.
- Eu digo... - tartamudeou, intimidado, o lavrador.
- Pois sim: mas não deve meter-se a falar em coisas que não entende. As estradas não servem para nada! As estradas são meios de comunicação e... facilitam o... o... o tráfego comercial e aumentam por conseguinte a riqueza das nações... Porque o trabalho representa um capital... sim, senhores, mas... mas um capital... sim... um capital morto... quero dizer... um capital que... não vive... Quero dizer... sim... suponhamos: o crédito por exemplo... O crédito... sim... aí está o crédito... Pois que é o crédito?... O crédito é... é o crédito... depende de muitas coisas... Por outra, suponhamos... se nós não tivéssemos estradas... Uma suposição... Partamos de um princípio. A produção excede o consumo... Quero mesmo que o consumo exceda a produção... Sim, quero mesmo isso... Muito bem... Daí que resulta? Está claro que um desequilíbrio. E depois?... Depois, boas noites... Não havendo estradas... Aí está que se diz por aí que a livre exportação, que tal, que sim senhores... mais isto, mais aquilo... Pois não é assim. É preciso que se atenda também às condições económicas dos povos. Sim... eu digo: O comércio deve ser livre... Muito bem... Em termos já se sabe... Mas... o comércio livre... a livre troca... entendamo-nos... É preciso clareza de ideias... Quando eu digo que... Ora suponhamos... suponhamos que não havia estradas... Os transportes eram mais difíceis e portanto mais caros... E, se, além disso, os géneros fossem escassos, e... Diz vossemecê: para que servem as estradas? Ora diga-me uma coisa, Sr. Manuel: suponhamos que... os impostos indirectos... não precisamos de ir mais longe... os impostos indirectos... Sempre queria que me dissesse o que havia de fazer?
- Impostos, Deus me livre deles! -- murmurou o lavrador, cujos instintos trepidaram à palavra «impostos».
- Isso também não é assim... Deus me livre! Não se diz «Deus me livre», porque a riqueza... a riqueza... sim, a riqueza não está na terra... isto é, a riqueza está na terra... mas é preciso o capital para a exploração... Percebe?... Ou... suponhamos... por exemplo... Não... vamos cá por outro lado... Há um défice num orçamento... desce o preço das inscrições... Ora bem... Mas... suponhamos que há boas estradas, etc... A riqueza tende a aumentar... e... e... Enfim, lá que as estradas são úteis, isso é que não tem questão.
Toda esta lengalenga económica foi escutada pelo auditório com profunda atenção.
O Brasileiro, assinante e leitor infalível de vários periódicos políticos, conseguira, à força de leitura, fixar na memória certas frases do artigo de fundo, e acabara por convencer-se de que possuía grandes noções de ciência política. Em ocasiões como esta dava uma sacudidela ao intelecto, e aquelas frases, como os variados objectos do interior de um caleidoscópio, tomavam uma disposição tal ou qual, mais ou menos regular, e assim lhe saía uma dissertação, como essa que viram. Em permanente indigestão económica vivia este portento. A doença não é das mais raras entre políticos.
Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais
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