sábado, 15 de dezembro de 2012

Pessoa, por Ricardo Reis


Fernando Pessoa em 1929, na Adega Abel Pereira da Fonseca, em Lisboa, 
a beber o seu copito. 


Bocas Roxas

Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

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